Muitos artistas dedicam a vida aos registros da cultura de
seu povo e de seu país.
No Brasil, Candido Portinari foi um deles. Sua extensa obra
nos faz viajar no tempo, através da história.
Café, 1935. Óleo sobre tela, 130X195cm. Museu nacional de Belas Artes - RJ |
Esse quadro por exemplo, foi muito importante para a sua carreira
e para as artes plásticas no Brasil. Foi também premiada nos Estados Unidos. A
obra revela claramente um Portinari preocupado com a vida dos trabalhadores
rurais. A rotina do trabalho, as roupas, as dificuldades, tudo ficou
registrado.
O artista mostra o ambiente rural, uma fazenda de café.
Porém, mais do que tudo, ele nos faz perceber o árduo trabalho do campo.
Observe a cor marrom predominante na tela. Não há céu, não há horizonte, há
sim, uma fila interminável de trabalhadores. Podemos até imaginar seus
movimentos. Veja novamente a tela
inteira. Portinari nos intriga quando deixa somente um rosto à mostra, mistura a terra aos corpos, mostra o jeito
autoritário do capataz, uma tela com movimento, força, drama.
A obra de Portinari sofreu forte influência de seus
primeiros anos de vida. Sua querida Brodowski, cidade do interior paulista,
onde nasceu em 29 de dezembro de 1903, seria lembrada em sua pinturas.
Candinho, como carinhosamente era chamado, sempre foi miúdo
e tinha dificuldade para andar por causa de um acidente. Esse fato foi marcante
para o franzino garoto que achava seus pés pequenos e fracos.
Na fazenda Santa Rosa, onde morava, observava os colonos
trabalhando na roça, principalmente seus
pés, com dedos enormes e fortes.
Desde pequeno, gostava de desenhar e pintar. Aos 9 anos de
idade, trabalhou como auxiliar na pintura do forro da Igreja de sua cidade. Ele
ficou encarregado de fazer as estrelas. Aprendeu então, o Spolvero, uma técnica
de pintura em que se utiliza um saquinho cheio de tinta em pó que é batido
sobre moldes de papel vazado com formatos diversos. Desenhava em todos os
pedaços de papel, até que seu pai o levou para estudar desenho com um senhor que copiava estampas de santos. E então,
com 10 anos, fez seu primeiro retrato: Carlos Gomes.
Retrato de Carlos Gomes, 1914. Desenho a carvão sobre papel, 43X42cm. Coleção particular - RJ |
Sempre elogiado pela família, cada vez mais estava
convencido de que deveria seguir a carreira de pintor.
Aos 15 anos foi estudar na Escola Nacional de Belas Artes,
no Rio de Janeiro, onde teve professores importantes, como Lucílio de Albuquerque,
Rodolfo Chabelland, Rodolfo Amoedo e Batista da Costa. Como possuía pouco
dinheiro, foi morar em uma pensão, encontrava dificuldades até mesmo para pagar
um almoço, mas a sua vontade de vencer era tão forte, que superava tudo.
Aos vinte anos, pintou “Baile na Roça” que foi reconhecido
como sua primeira obra de arte. Foi a primeira tela que Portinari vendeu.
Baile na Roça, 1924. Óleo sobre tela, 97X134cm. Coleção Particular - RJ |
Participou de diversos concurso, em 1928, foi finalmente
premiado, com uma viagem à Europa, pelo retrato que pintou de Olegário mariano,
poeta pernambucano. Recebeu então, uma quantia em dinheiro do governo
brasileiro e foi para Paris, onde, em 1930, conheceu Maria Victória, jovem
uruguaia que ali morava. Casaram-se e viveram na Europa por mais um ano. Lá,
ele não pintou quase nada, apenas andou, observou e aprendeu muito. Conheceu
obras de diversos artistas, como as do pintor renascentista italiano Giotto.
Portinari também apreciava outros artistas: Matisse, que usava cores puras, o
alemão Emil Nolde e o italiano Amedeo Modigliani. As técnicas de Van Gogh e de
Cézanne foram profundamente esmiuçadas por Portinari.
A saudade do Brasil, porém, crescia dia a dia, e Portinari
decidiu rever sua gente e sua terra natal, trazendo Maria, sua grande paixão.
De volta ao Brasil, trabalhou como nunca. Pintou diversas telas sobre sua
infância, e Brodowski. A obra “Café”, foi pintada nessa época.
Fazia esboços com detalhes e os consultava ao elaborar suas
telas. Era também muito cuidadoso com seu material. Usava pincéis importados da
Europa, faquinhas e até pequenos bisturis. Sua pintura foi fortemente
influenciada por Pablo Picasso: após conhecer o famoso “Guernica”, Portinari
chocou o público ao pintar os santos com expressão sofrida, angustiados pelos
problemas humanos. Para ele, “o conteúdo
espiritual de um quadro registra a potência de sensibilidade do artista. O lado
técnico registra o conhecimento e o desenvolvimento da sensibilidade do
artista. A técnica é um meio com o qual o artista transmite a sua
sensibilidade”.
Sua pintura torna-se sem regras, sem formas regulares.
Sua preocupação era o “Homem”. Na obra
“Lavrador de Café”, uma das mais famosas que pintou, retratou força, movimento,
desafio. Observe como o corpo parece estar unido para sempre à terra vermelha,
viva, os enormes pés fincados e firmes sugerindo a busca e a conquista da
terra. A partir de 1936, , desenvolveu a pintura de murais. Nessa época, o
governo brasileiro costumava encomenda-los para serem colocados em prédios
públicos. Pintou a afresco os murais do prédio do Ministério da Educação e da
Saúde, no Rio de janeiro, e o tema foram os ciclos econômicos do Brasil. Pintou
o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o gado, o ouro, o fumo, o algodão, a erva-mate,
o café, o cacau, o ferro, a carnaúba e a borracha. Portinari afirmava, que “a
pintura mural é a mais adequada para a arte social, porque o muro geralmente
pertence à coletividade e ao mesmo tempo conta uma história interessando a um
maior número de pessoas”.
Já famoso por sua pintura muralista, em 1943, começou a
pintar os painéis da Série Bíblica. Neles, o pintor expressa a sua amargura
diante da injustiça.
A convite do arquiteto Oscar Niemeyer, em 1944, iniciou as
obras de decoração da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo
Horizonte. Nessa mesma época, trabalhou nas pinturas da série “Retirantes”. Com
essa série, atinge o auge de sua emoção. Resgata imagens de sua infância:
famílias pobres e desabrigadas que passavam por sua cidade. Dois anos mais tarde, iniciou a série “
Meninos de Brodowski” .
Menino de Brodowki , 1946. Desenho a óleo sobre cartão, 94X50cm (aproximadamente). Coleção particular - RJ |
menino de Brodowski, 1946. Desenho a óleo sobre papel, 85X49cm (aproximadamente). Coleção particular - Los Angeles - EUA. |
A partir do final da
de 1940, fez uma série de obras tratando de temas históricos. Nessa
fase, retoma o trabalho em murais, expressando por meio deles seu olhar sobre
os fatos da história do Brasil. Seu painel “Primeira Missa no Brasil”, por
exemplo, representa características mais geométricas, utilizando retas
paralelas e diagonais, para provocar efeitos especiais.
Em 1956, terminou dois painéis para a Sede das Organizações
das nações unidas (ONU), em nova York: “Guerra e Paz”. Nessas obras, usou
poucas cores, linhas retas e formas geométricas, com figuras sobrepostas, sem
preocupar-se com perspectiva e profundidade.
Guerra, 1956. Painel a óleo sobre madeira compensada,
1.400X1058cm 9irregular. Coleção Organização das nações Unidas, Nova York, EUA.
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Paz, 1956. Painel a óleo sobre madeira compensada, 1400X953cm (irregular). Coleção ganização Das nações Unidas, Nova York, EUA
Observe e compare os dois quadros: um expressa tristeza e
desamparo, o outro, alegria e aconchego.
A obra de Portinari foi intensa e diversificada, pintou
tipos regionais do Brasil, como os cangaceiros e os índios carajás, não gostava
de pintar retratos por encomenda, preferia retratar sua esposa Maria e os
amigos. Pintou também “Desenhos de Israel”, que foram inspirados na paisagem e
no povo do país, depois de uma viagem para lá em 1956.
Portinari adorava conversar com as crianças, ele dizia: “Sabem por que é que eu pinto tanto menino em
gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos.” Denise, sua neta, filha
de seu único filho, João, foi diversas vezes tema de suas pinturas.
Denise com Carneiro branco, 1961. Óleo sobre madeira, 61X50cm. Coleção particular, Belo Horizonte, Minas Gerais
Assim era Portinari, sua maior
preocupação sempre foi expressar o homem por meio de diferentes linguagens e
formas. Suas pinturas retratavam nosso país. Misturando as técnicas que havia
aprendido à sua personalidade, experimentou novos caminhos para os traços, as
cores e as formas que criava.
Sua obra não pode ser rotulada:
apresenta contradições e soluções que superam o artista comum. Não pode
simplesmente ser enquadrada em um
contexto artístico. Ela deve ser entendida com toda a sua força dramática
expressa em cada pincelada.
Muitas pessoas criticavam suas
obras, achavam que as figuras tinham formas exageradas, monstruosas, não
entendiam, o real significado de sua arte.
Até hoje, existem críticos que
provocam polêmica em torno do seu trabalho. Ainda que amplamente reconhecido
por seu trabalho no País, Portinari também encontrou críticos e conhecedores de
arte dispostos a contestar a justiça da posição alcançada pelo artista. Acusado
de desenvolver uma estética de tons fascistas por uns e de adotar um tom
excessivamente engajado de “artista de esquerda” por outros ou de apenas
reinterpretar o cubismo de Picasso sem desenvolver um estilo próprio, o pintor
sobrevive aos seus possíveis pontos fracos, assim como ao próprio mito. Na
edição de 23 de junho de 1993 da Revista Veja, o crítico de arte e editor da
revista Novos Estudos 9Cebrap), Rodrigo Naves, dedicou duas páginas à tese de
que o artista não conseguia libertar-se de um estilo marcadamente sentimental e não resistia a
apelar para as emoções derramadas, ainda que socialmente inócuas, com o intuito
de obter ampla difusão e reconhecimento , por meio do que chama de “empatia
áspera”. Raramente suas figuras conseguem comunicar ao espaço de todo o quadro
drama que em princípio seria seu traço fundamental. E as constantes tentativas
de dignificar os trabalhadores, dando-lhes um porte grandioso, terminaram por
encontrar pouca eficácia, uma vez que dificilmente aquela conformação se
transmite para o restante dos quadros”. Habituado a ouvir e a ler
interpretações como essas, e sem mergulhar profundamente nas discussões que
cercam a obra de Portinari, o filho do artista, João Candido, costuma afirmar,
vendo nisso algo positivo e não como uma deficiência, que seu pai, pintava os
trabalhadores de uma foram digna e exuberante .
A influência inegável de Picasso é vista por outros críticos como
natural. “O veio realista de Portinari ganha reforço na Europa, na época em que
um Picasso neoclássico era o grande modelo” assina-la Annateresa Fabris.
“Portinari é moderno dentro das peculiaridades de modernismo no Brasil”, que
não teve sincronia com os movimentos estéticos do Velho Mundo.
Portinari faleceu em 1962, aos 59
anos, vítima de intoxicação provocada pelas tintas a óleo que utilizava. Sua
principal obra foi deixar gravadas, para sempre, na história e na arte do
Brasil, pinceladas que buscavam a perfeição sob um ponto de vista particular, e
o amor à sua gente , suas raízes, sua história.
Assim como escreveu Jorge Amado: “ Foi um dos homens mais importantes do
nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança
de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade.”
Portinari, Candido
Meu Primeiro Trabalho , 1921
óleo sobre tela, c.s.d. 25,5 x 23 cm Coleção Particular |
BIBLIOGRAFIA:
* Candido Portinari, Nereide Schilaro Santa Rosa, Editora Moderna
* Brincando com Arte Portinari, Angelica policeno Fabri, Editora Noovha América
* Camargo, Ralph Portinari Desenhista, Rio de Janeiro, 1977
* Fazendo Arte com os Mestres, Ivete Rafa, Editora Escolar
* http://blogillustratus.blogspot.com.br/2010/05/candido-portinari.html
Portinari, Candido Futebol , 1935 óleo sobre tela, c.i.d. 97 x 130 cm Coleção Particular |
Não é muito bom esse site é uma porcaria
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